Especialistas ouvidos pelo g1 explicam que ter fantasias sexuais é algo natural, que estimula a criatividade e pode ajudar no desenvolvimento dos relacionamentos.
Fantasias sexuais fazem parte do imaginário da maioria das pessoas. Segundo especialistas, o desejo de criar e viver novas situações não é, por si só, um sinal de problemas no relacionamento.
1. Fantasias sexuais e fetiches são a mesma coisa?
Não. Segundo Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex), do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, o fetiche é uma coisa fixa e acontece de forma repetitiva, enquanto a fantasia acontece como um incremento para a relação, para explorar a criatividade.
Segundo ela, o fetiche condiciona a atividade sexual a algo que gere a excitação, seja um objeto, uma roupa, um local, etc. Por outro lado, a fantasia sexual é livre e varia de acordo com os desejos do indivíduo, podendo variar conforme a ocasião.
“Fantasias sexuais são pensamentos, ideias, em relação ao comportamento sexual. Algo novo que você possa colocar em prática ou não na relação, apenas imaginar. Pode ser, também, o sentido literal da palavras, algo que você veste, um comportamento específico”, explica a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello.
2. É normal ter fantasias sexuais?
Sim. Embora muitas pessoas tenham receio que a fantasia sexual esteja relacionado a algo impuro ou vulgar, elas fazem parte do imagético e do universo da grande maioria das pessoas.
“Fantasia faz parte. Tem pessoas que se permitem mais e tem pessoas que se permitem menos. Quem se permite fantasiar, normalmente, faz isso para tornar a ação sexual mais interessante, mais intensa, ou mesmo porque não tem como ou não deseja viver isso na realidade”, diz Abdo.
Segundo ela, a minoria que não se permite ter fantasias sexuais se limita devido a questões que remetem a sua formação como indivíduo a nível cultural, social e religioso.
3. Qual a origem das fantasias sexuais?
As motivações que originam as fantasias sexuais na mente das pessoas são múltiplas, podendo estar relacionada à busca por prazer, ao desejo de diversificar o ato ou de satisfazer o pedido do parceiro ou mesmo porque não há mais conexão na relação em que se encontra, sendo a fantasia o modo que o indivíduo encontra para manter a excitação.
“As fantasias podem ajudar muito em um relacionamento porque trazem um elemento novo para a relação. Pode ser lúdico, divertido e trazer um despertar para a relação”, diz Cecarello.
O mesmo é aplicado no âmbito individual. Segundo a especialista, para se ter prazer em um relacionamento é necessário que as pessoas pratiquem o autoconhecimento e reconheçam seus pontos de prazer, algo que pode ser explorado com a ajuda das fantasias.
“Nutrir fantasias individualmente permite um maior conhecimento das próprias sensações. É uma forma da pessoa buscar o próprio prazer até para dividir isso com o outro”, esclarece Cecarello.
Fantasias sexuais devem ter o consenso do parceiro antes de serem colocadas em prática. — Foto: Burger/Phanie
4. Quais as fantasias sexuais mais comuns?
Segundo Carla Cecarello, que possui mais de 30 anos de experiência como sexóloga, as fantasias mais comuns relatadas em um relacionamento a dois envolvem adereços (como o uso de lingeries, vendas, amarras e chicote), lugares (algo que proporcione uma experiência diferente, como o uso de velas aromáticas, banho de banheira) ou comportamento, como fazer um striptease, uma dança sensual, imaginar ou propor uma relação com mais parceiros ou pessoas distintas.
A fantasia mais comum dos americanos é ter múltiplos parceiros sexuais. O dado foi revelado por pesquisa feita pelo Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, um centro de pesquisas sobre sexo.
Segundo a investigação, 87% das mulheres e 95% dos homens fantasiam uma relação com múltiplos parceiros. Além disso, dois terços dos entrevistados relataram desejos sexuais com alguém diferente do parceiro do relacionamento.
5. Ter fantasias sexuais com outra pessoa que não seja o meu parceiro é um sinal de alerta?
Depende. De acordo com a sexóloga Ivana Marques, fantasiar com outras pessoas enquanto se está em um relacionamento não necessariamente aponta para um problema na relação.
“Isso não significa que ele ou ela quer trair o outro. Isso envolve a conquista, se sentir conquistado, desejado”, explica Marques.
Segundo Carmita Abdo, coordenadora do ProSex, o alerta não está relacionado a fantasia em si, mas com a motivação que origina esse desejo.
“A fantasia em si pode ter várias motivações. Eu posso querer satisfazer a minha parceria, meu parceiro, porque assim eu fico mais estimulado. Ou então, eu estou tão distante que eu preciso recorrer a outros estímulos para conseguir estar ali”, diz Abdo.
O alerta de que o relacionamento não está sendo mais excitante pode ser percebido quanto uma das partes precisa recorrer às fantasias, principalmente se imaginar com outra pessoa, para ter uma relação sexual.
“Ouvimos relatos muito frequentemente de pessoas que se sentem culpadas por estar fantasiando com outras pessoas que não a parceria ou parceiro. É um recurso bastante frequente em relacionamentos desgastados, que duram bastante tempo ou que não geram os mesmos estímulos que antigamente”, fala a especialista.
“Se esse tipo de fantasia passa ser uma atividade habitual, você já trocou de parceria sem ter, de fato, trocado. É importante ter essa consciência que deixou de ser atraente, interessante, estimulante”, diz Abdo.
6. Qual o limite para as fantasias sexuais que tem a pretensão de se tornarem reais?
As especialistas são unânimes que, independente da fantasia, é necessário que haja consenso entre as partes.
“O limite que eu vejo é o consenso. Acho que, se tratando de relações a dois, a pessoa pode fantasiar, imaginar, criar situações novas desde que a parceria esteja junto no mesmo projeto. Tem que estar os dois na mesma página”, diz Cecarello.
Por isso, a sexóloga Ivana Marques defende que o diálogo seja sempre estimulado na relação a dois.
“A fantasia ajuda no relacionamento, mas é preciso ter diálogo. Todo mundo tem fantasia sexual, mas o falar sobre isso é muito importante. Quanto maior o diálogo, mais fácil da fantasia se concretizar de um modo que seja confortável para os dois”, diz Marques.
Fonte G1