Mais de 24 horas após o ex-guerrilheiro Gustavo Petro se tornar o primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia, no último domingo (19), o Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota em nome do governo brasileiro o parabenizando pela eleição.
“Ao desejar ao presidente eleito êxito no desempenho de suas funções, o governo brasileiro reafirma seu compromisso com a continuidade e o aprofundamento das relações bilaterais com a Colômbia, com vistas ao bem-estar, prosperidade, democracia e liberdade de nossos povos”, afirmou o Itamaraty nesta terça-feira (21).
O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não se pronunciou oficialmente sobre o novo líder colombiano. Mas na segunda-feira (20), em uma lista de transmissão que mantém no WhatsApp, ele questionou se o Brasil seria o próximo país a eleger um líder de esquerda.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Bolsonaro encaminhou neste grupo uma imagem de uma matéria da BBC News Brasil que tem o título “Ex-guerrilheiro vence eleição na Colômbia e será primeiro presidente de esquerda do país”.
Abaixo da foto, escreveu: “Cuba… Venezuela… Argentina… Chile… Colômbia… Brasil???”, numa referência ao fato de a esquerda, com Lula, ter chance de voltar ao poder no país.
Também nesta segunda, Bolsonaro comentou com apoiadores o sequestro do empresário Abílio Diniz por grupos de esquerda, em 1989. Quando uma pessoa citou a Colômbia na conversa, o presidente comentou: “É um ex-guerrilheiro do MIR, movimento de esquerda revolucionária”. A cena foi registrada em vídeo.
A fala, no entanto, não deixou claro se ele se referia a Petro -que na verdade é ex-guerrilheiro do movimento M-19- ou à participação de integrantes do MIR -que é chileno- no sequestro de Diniz.
A Folha de S.Paulo questionou o Palácio do Planalto para saber se Bolsonaro se referia, ou não, ao novo presidente da Colômbia, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
Já o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, afirmou que a relação entre as duas nações independe do governo de momento. “A relação é de Estado para Estado, independentemente do governo”, disse.
“[Desejo] sorte ao Gustavo Petro, porque administrar um país na situação que o mundo está enfrentando não é simples. Temos interesses comuns com os colombianos, principalmente na questão da Amazônia.”
Petro foi eleito presidente neste domingo (19), com 50,44% dos votos, em um país que nunca havia visto um presidente que não fosse de direita em sua história.
De acordo com ministros e interlocutores de Bolsonaro, o presidente chamou a atenção também para a alta abstenção da eleição colombiana. O voto não é obrigatório no país, e cerca de 45% dos cidadãos habilitados a votar não compareceram às urnas. Ainda que alta, a cifra configura a menor abstenção em duas décadas na Colômbia.
Bolsonaro, no entanto, estaria preocupado com a possibilidade de a abstenção no Brasil também ser alta, mesmo com o voto obrigatório.
A vitória de Petro também amplia o isolamento político de Bolsonaro no continente. Se considerados apenas os vizinhos mais próximos, oito dos 12 países da América do Sul passaram a ser governados por líderes declaradamente de esquerda, cenário bem diferente daquele que o presidente brasileiro encontrou ao assumir o Planalto, em 2019.
Além disso, a eleição do ex-guerrilheiro teve outro simbolismo: foi reconhecida por seu principal opositor, Rodolfo Hernández, menos de uma hora depois da divulgação dos resultados.
FONTE: PORTAL DO HOLANDA