Processo parado há quase uma década aguardando perícia judicial.
Uma tragédia hospitalar que começou com uma internação de rotina terminou em morte, sofrimento extremo e uma batalha por justiça. Em Manaus, a família de Elizabeth da Costa Saraiva da Silva move uma ação judicial contra o Hospital Santa Júlia, acusando a unidade de saúde de negligência grave, omissão de socorro e falhas no atendimento que teriam levado à sua morte.

De acordo com o processo, Elizabeth deu entrada no hospital em outubro de 2017 para acompanhamento médico. Após ser submetida a uma cirurgia cardíaca, a paciente apresentava sinais de recuperação e chegou a receber alta da UTI.
No entanto, ao ser transferida para o quarto, ocorreu o que a família descreve como o início de um “calvário”. Segundo o relato judicial, Elizabeth sofreu uma hemorragia intensa no pulso, permanecendo cerca de quatro horas sangrando sem atendimento eficaz. Familiares teriam pedido ajuda repetidas vezes, mas receberam apenas curativos improvisados, que não estancaram o sangramento. A demora no atendimento teria causado um choque hipovolêmico grave, condição potencialmente fatal.


A partir desse episódio, o quadro de saúde da paciente teria se deteriorado de forma irreversível. Ela sofreu infecções generalizadas, falência de órgãos e teve as duas pernas amputadas após entrar em coma por mais de 40 dias. Em 9 de janeiro de 2018, Elizabeth não resistiu.

A filha, autora da ação, afirma ter desenvolvido graves problemas emocionais após presenciar o sofrimento da mãe com seu pai e duas irmãs. No processo, ela sustenta que o hospital falhou em seus deveres básicos de vigilância, emergência e cuidado, e pede indenização por danos morais para que esse tipo de situação não continue acontecendo com famílias de bem em Manaus.
O caso levanta questionamentos graves sobre a segurança dos pacientes e os protocolos de emergência na unidade hospitalar privada. Mesmo com gravidade extrema dos fatos, o processo segue sem conclusão. A principal razão: a Justiça ainda não conseguiu nomear e efetivar a atuação de um perito médico para avaliar tecnicamente o caso.
De acordo com relatos constantes nos autos, sucessivas tentativas de nomeação de peritos não avançaram, em razão de recusas, impedimentos e dificuldades localizadas exclusivamente no meio médico da própria cidade. A família afirma que existe um ambiente de proteção interna entre médicos, onde profissionais evitam produzir laudos contra colegas, o que impediria a materialização da prova técnica essencial para o avanço do processo.
Sem perícia, o processo permanece estagnado. Para a filha de Elizabeth, autora da ação, a dor não terminou com o luto. “Minha mãe já morreu há quase oito anos. Ela sofreu, foi mutilada, ficou em coma, e até hoje não existe uma resposta. A maior dor é ver que ninguém é responsabilizado”, relata.
O caso levanta uma questão grave: como garantir justiça às famílias quando a principal prova depende de um sistema que se protege internamente?
A ação judicial ainda está em tramitação.

