Ao ‘Estado’, ministro indicou que espera ‘fechar capítulo’; na operação, suíços bloquearam US$1,1 bilhão e menos de US$300 milhões foram repatriados ao Brasil.
Davos – O ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que vai retomar os contatos com as autoridades suíças para acelerar a troca de informações e, assim, permitir que milhares de páginas de documentos sobre centenas de contas ainda congeladas nos bancos dos países alpinos possam ser decifradas.
Em entrevista ao Estado, nesta terça-feira, 22, Moro indicou que quer “retomar os esforços de colaboração” para “fechar um capítulo”, sem prejuízo para uma troca de informações no futuro.
Moro indicou que durante a atual viagem ele não teria encontros com os suíços. Mas deixou claro que quer que seu Ministério tenha um forte departamento internacional.
“Queremos aprofundar a cooperação internacional. Queremos ter mais acordos com Países. Mas, acima disso, fazer com que os acordos existentes saiam do papel. Existem muitos acordos que ficam no papel. Claro, precisa existir o acordo para que, caso haja necessidade, ele seja usado”, disse.
“No acordo que temos com a Suíça, ele precisa ser aprofundado. Temos que terminar todos aquelas investigações que temos na Lava Jato e temos que impulsionar, mais uma vez, as descobertas de contas no exterior para guardar dinheiro e também obter a documentação pertinente”, disse o ex-juiz, que chama a Suíça de um país “estratégico” nessa cooperação.
Diante da Operação Lava Jato no Brasil, os suíços bloquearam um total de US$ 1,1 bilhão em mais de mil contas. Desse valor, quase cinco anos depois, menos de US$ 300 milhões foram repatriados ao Brasil e quase todos envolvendo pessoas que reconheceram os crimes e aceitaram devolver o dinheiro como parte das delações premiadas.
Milhões ainda estão bloqueados, esperando uma conclusão de mais de 60 inquéritos ainda abertos. O problema, segundo os suíços, é que muitas vezes apenas se pode avançar com o cruzamento de informações com as investigações no Brasil.
Ex-procuradores em Berna insistem que a cooperação com as autoridades brasileiras ocorreu, mas ela poderia ter sido acelerada se não tivesse havido pressões políticas e dificuldades em montar uma força-tarefa conjunta.
Nos últimos anos, a Procuradoria Geral da República propôs aos suíços criar o primeiro grupo bilateral.
Os suíços fizeram sua parte e criaram uma força-tarefa para tratar dos assuntos da Lava Jato. Ainda com Dilma Rousseff como presidente, o procurador Rodrigo Janot foi até a Suíça e acertou o projeto.
Mas, nos meses que seguiram, tanto sob Dilma como no governo de Michel Temer, o Ministério da Justiça fez exigências que impediram o funcionamento do mecanismo.
O Executivo queria o nome dos brasileiros que seriam investigados antes de dar o sinal verde para o projeto. A PGR se recusou a aceitar as condições, já que parte dos investigados eram ministros. Um deles era José Serra, chanceler sob o governo Temer.
Fonte: Estadão.