Ribeirinhos, indígenas, militares, parlamentares e representantes da sociedade civil e do Governo do Amazonas participaram nesta quinta-feira (07/03) do primeiro dia do Seminário “Sínodo da Amazônia: contribuições a partir do desenvolvimento sustentável”, realizado no Centro Pastoral da Arquidiocese de Manaus, centro da capital amazonense.
O evento tem como objetivo contribuir para o processo de discussão entre sociedade e atores participantes do Sínodo da Amazônia, bem como servir de apoio na elaboração de documento-base sobre o assunto. Convocado pelo Papa Francisco, o sínodo (assembleia periódica de bispos de todo o mundo) deve acontecer em outubro, reunindo mais de 250 bispos no Vaticano, para discutir os novos caminhos para evangelização a partir de diversos temas relacionados à Amazônia.
Estiveram na abertura do seminário o monsenhor Marcelo Sorondo, da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano; o cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes; o arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani; os secretários de Estado de Meio Ambiente, Eduardo Taveira, que representou o governador do Amazonas, e de Estado de Educação e Qualidade de Ensino (Seduc), Luiz Castro; o general do Exército César Augusto Nardi; a juíza federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Jaíza Fraxe, e a desembargadora do Tribunal de Justiça do Amazonas, Socorro Guedes. Também participaram do evento o deputado federal José Ricardo Wendling, a deputada estadual Joana D’arc, e o titular da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), Paulo Faria.
Diálogo – O primeiro dia de seminário proporcionou um clima de diálogo e convergência entre os diferentes segmentos da sociedade. O cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), assegurou que o sínodo não trata de temas relacionados à soberania nacional, que é absolutamente respeitada e reconhecida pela Igreja. O foco do sínodo é buscar o bem comum, orientado pelos conceitos da Encíclica Laudato Si’, documento publicado pelo Papa Francisco.
“É uma missão proposta pela Laudato Si’ do Papa Francisco, de 2015, promover o diálogo entre a sociedade sobre a urgência de cuidarmos da casa-comum onde habitamos. Por isso a CNBB (Confederação Nacional de Bispos do Brasil) e a Repam veem positivamente as contribuições desse encontro em Manaus, acompanhando seus desdobramentos, escutando como uma tarefa importante não apenas para o Brasil, mas para o mundo todo”, enfatizou o bispo.
Desenvolvimento sustentável – O secretário estadual de Meio Ambiente, Eduardo Taveira, representando o governador do Amazonas, Wilson Lima, enfatizou a necessidade de ir além das ações de comando e controle para conciliar a necessidade de promover a melhoria dos indicadores sociais, sem comprometer a conservação ambiental. “É um compromisso do governador implementar ações voltadas para o desenvolvimento sustentável do Amazonas, levando geração de renda e melhorias sociais para o interior do Estado por meio da valorização das populações tradicionais”, declarou.
O general César Augusto Nardi destacou as importantes missões do Exército junto às comunidades amazônicas, defendendo as fronteiras e apoiando o combate aos crimes ambientais, como o garimpo. “O Exército Brasileiro tem a missão do desenvolvimento brasileiro e conservação da nossa casa-comum, a Amazônia, e historicamente vem atuando fortemente na proteção da região e das nossas fronteiras. Queremos contribuir com nossa experiência e para o aprofundamento da discussão do Sínodo da Amazônia, importante para todo o mundo”, declarou o general Nardi.
Agenda de interesse nacional – O superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgílio Viana, acrescentou a importância de construir uma convergência para uma visão de interesse nacional contemporânea, onde a redução das taxas de desmatamento deve ser vista como sendo do interesse nacional. “A Amazônia é essencial para manter o regime de chuvas em grande parte do território nacional, com implicações para a produção agropecuária, geração de energia elétrica e abastecimento urbano de água e, portanto, a segurança nacional”, reforçou.
Para a coordenadora de política e engajamento do Instituto Conservação e Sociedade (ICS), Alice Amorim, o evento teve êxito em conseguir colocar em convergências diferentes atores em prol de uma agenda integradora. “O mais importante é a visão compartilhada entre os atores de que a Amazônia precisa ser vista não de forma isolada, mas sim como parte de uma agenda estratégica para o Brasil e para o mundo, e que é preciso valorizar muito as populações tradicionais proporcionando melhorias para elas”, finalizou.
Atividades seguem na sexta-feira – O segundo dia (08/03) será destinado a grupos de trabalho temáticos, que terão como foco a busca de soluções concretas para o desenvolvimento sustentável a serem encaminhadas ao Vaticano.
Os trabalhos iniciam a partir dos temas discutidos no dia anterior: proteção dos rios e lagos; grandes obras e infraestrutura; desmatamento e degradação florestal; mudanças climáticas e impacto econômico; defesa dos Territórios Indígenas; tráfico de pessoas, abusos contra mulheres e crianças e a prostituição; e espiritualidade e cultivo de virtudes. As discussões de cada grupo ocorrerão entre 9h e 12h, na sede da FAS, no bairro Parque 10, zona centro-sul.
Pela parte da tarde, a partir das 14h, serão apresentados e debatidos os resultados das discussões, bem como o compilamento de recomendações e encaminhamentos futuros. O evento é realizado pela Arquidiocese de Manaus, integrante da Repam, e conta com apoio da FAS, Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN-Amazônia), da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano e do Instituto de Conservação e Sociedade.
FOTOS: RICARDO OLIVEIRA/SEMA