A equipe encarregada da redação do programa de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne na manhã desta quinta-feira (9) para incorporar propostas de aliados ao texto preliminar que foi encaminhado na segunda-feira (6) aos dirigentes de partidos —segundo eles, sem aval dessa coordenação.
Sob comando do ex-ministro Aloizio Mercadante, o grupo é formado por dois representantes de cada um dos sete partidos que compõem a aliança encabeçada pela chapa Lula-Alckmin.
Representantes de partidos que integram essa coordenação dedicada ao plano de governo se queixam de não terem sido consultados antes que o documento viesse a público, na manhã da própria segunda.
Os integrantes da coordenação chegaram a protestar em troca de mensagens.
Dirigente do PSB, o ex-deputado Domingos Leonelli Netto foi um dos que reclamaram. Ele conta ter sido orientado, na quinta-feira (2), a apresentar sugestões até as 12h do dia seguinte, sexta-feira (3).
Afirma que, embora tenha cumprido o cronograma, suas propostas não constavam do documento que foi encaminhado, três dias depois, aos dirigentes de partidos, sob o título Diretrizes para o Programa de Reconstrução do Brasil Lula 2023-2026.
Segundo Leonelli, o documento ainda não deve ser considerado produto desse trabalho suprapartidário, mas apenas do PT.
Entre as propostas que foram desprezadas está a implementação de um Sistema Único de Segurança Pública e a valorização de seus profissionais.
Ele defende ainda que o documento aborde uma estratégia de economia criativa que agregue à ciência tecnologia, por exemplo, os elementos da indústria cultural, da inteligência artificial e da biotecnologia.
O texto distribuído aos partidos, lembra, enfatiza a proposta de desindustrialização. Leonelli ressalta, porém, que a indústria não é mais a mesma e uma nova economia surgiu com a revolução tecnológica.
Originalmente, a reunião desta quinta-feira tinha sido convocada para discussão de propostas que viessem a ser apresentadas pelos partidos após apreciação de um texto redigido por essa coordenação suprapartidária.
Seguindo esse calendário original, na noite desta quarta-feira (8), o comando do PT se reuniu para discutir emendas a essas diretrizes programáticas.
Mas, após esse mal-estar provocado entre aliados, o documento será debatido, novamente, pelos membros da coordenação da campanha. Depois da inclusão de todas as propostas de partidos, será criada uma plataforma digital para apresentação de itens ao programa.
Com 90 parágrafos, o documento divulgado na segunda define os governos petistas como inovadores no combate à corrupção, reforça o papel do Estado na economia, enaltece o Bolsa Família e propõe a revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista implementada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), além da revisão do regime fiscal.
O texto defende ainda o fortalecimento dos sindicatos sem a volta do imposto sindical, a construção de um novo sistema de negociação coletiva e uma “especial atenção aos trabalhadores informais e de aplicativos”.
Como mostrou a Folha, em um aceno aos setores mais conservadores da sociedade e potenciais aliados ao centro, a prévia do plano de governo suaviza propostas controversas já defendidas pelo próprio Lula e seus aliados.
Assuntos como reforma do Judiciário, aborto e taxação de dividendos foram sutilmente mencionados nas diretrizes divulgadas.
FONTE: JORNAL DE BRASÍLIA