A cidade colombiana de Letícia, vizinha de Tabatinga, tem dez vezes mais policiais nas ruas.
O deputado estadual Ricardo Nicolau (Solidariedade) denunciou a falta de segurança pública nas ruas de Tabatinga (a 108 quilômetros de Manaus) e encontrou um posto policial abandonado na região da fronteira com a Colômbia. O parlamentar e pré-candidato ao governo do Amazonas esteve no Alto Solimões, neste fim de semana, para prestar contas do mandato, ouvir as demandas da população e ver de perto os principais problemas enfrentados pelas comunidades do interior.
Durante a viagem, Ricardo Nicolau recebeu relatos de que, em uma única semana, foram registrados dez homicídios na cidade amazonense, realidade bem diferente do outro lado da fronteira. Em Letícia, a capital do departamento do Amazonas na Colômbia, esse número é drasticamente menor: oito mortes nos sete primeiros meses deste ano.
“No lado do Amazonas, temos um posto policial abandonado sem nenhum policial. Quando atravessamos a fronteira, somos recebidos por policiais. Letícia é menor que Tabatinga e tem dez vezes mais agentes nas ruas e isso faz com que as pessoas se sintam mais seguras. Não estamos falando de um país da Europa, estamos falando de um país vizinho nosso que consegue prestar um melhor serviço ao seu povo. É preciso que o governo do Estado cumpra seu papel para colocar mais policiamento em Tabatinga, com mais armas, mais viaturas, com mais tecnologia, com câmeras de segurança nas ruas para, assim, poder dar mais segurança às pessoas”, ressaltou.
Letícia tem aproximadamente 40 mil habitantes, enquanto Tabatinga possui 52 mil pessoas morando na cidade, de acordo com o IBGE. Segundo o pré-candidato, uma das soluções para levar mais tecnologia e instrumentos para combater o crime na fronteira é usar os recursos do Fundo de Fomento ao Turismo (FTI), que só neste ano a estimativa é de R$ 1,6 bilhão e que deveria ser investido integralmente nos municípios.
Porém, o dinheiro é historicamente desviado pelo governo para pagamento de outras despesas públicas, como propaganda e sistema penitenciário, o que deixa a população do interior sem ter direito a investimentos amplos em áreas como a segurança pública, por exemplo.
“É preciso fazer uma integração da polícia colombiana com a PM do Amazonas para que possamos reverter esse quadro de violência. Os municípios têm direito a esses recursos do FTI. Tabatinga deveria receber R$ 40 milhões ao ano e esse dinheiro poderia ser usado na segurança pública, mas também na saúde e em obras de infraestrutura. Se Deus quiser, vamos fazer com que esses recursos possam chegar a esses municípios e, assim, mudar a vida das pessoas de verdade”, afirmou.
Uma região abandonada
Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte são cidades situadas na região da tríplice fronteira com Colômbia e Peru, um local com atuação de piratas dos rios e narcotraficantes e que foi palco do assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. O fato repercutiu em todo o mundo, uma realidade vivida todos os dias pelas comunidades ribeirinhas.
“O que aconteceu com Bruno Pereira e Dom Philips é lamentável e escancara, em nível internacional, a incompetência do Estado em manter a segurança dos cidadãos não apenas em Atalaia do Norte, mas em todos os municípios, especialmente nas regiões de fronteira. Infelizmente, todos os dias acontecem crimes nos nossos rios. As populações indígenas e ribeirinhas estão expostas a toda essa violência”, destacou Ricardo Nicolau.
Intervenção federal
O Amazonas vive uma escalada sem precedentes da violência, de forma generalizada, conforme evidenciado pelo levantamento divulgado mês passado pela emissora GloboNews em parceria com o Fórum Nacional de Segurança Pública (FBSP). O documento mostra que o índice de mortes violentas no estado cresceu 52% em 2021 em comparação com o mesmo período de 2020.
Na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), tramita há quatro meses, o Requerimento nº 577/2022, de autoria de Ricardo Nicolau, que pede intervenção federal na segurança pública do Estado após o aumento no índice de mortes violentas. O documento precisa ser analisado pelo plenário da Casa.