Depois de quase três anos de pesquisas, gravações e edição de material audiovisual, a TV BBC de Londres encerra, nos próximos dias, o documentário sobre o polêmico “Caso Wallace”, no qual, também, narra o surgimento das facções criminosas no Amazonas. A previsão é que a produção seja veiculada no segundo semestre deste ano.
O Caso Wallace ficou conhecido, internacionalmente, com a repercussão de uma investigação policial que apontava um parlamentar brasileiro, campeão de votos, como “chefe” de uma organização que mandava matar “suspeitos de praticar crimes” para expor em um programa de televisão. A BBC está em negociação para veicular o documentário na Netflix.
A produção conta com uma equipe formada pelos melhores profissionais da televisão britânica, e é dirigida pelo premiado diretor e repórter investigativo Daniel Bogado, vencedor do Emmy Award. O prêmio é o equivalente ao Oscar, no cinema, para profissionais de televisão.
Dividido em episódios, o documentário traz a história do ex-deputado estadual do Amazonas Wallace Souza que teve o mandato cassado em 2009, depois de ser acusado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) de comandar um grupo que praticava execuções e tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Segundo a direção, dezenas de pessoas foram ouvidas para o documentário, entre familiares de Wallace, correligionários, policiais, promotores de Justiça, juízes, delegados, jornalistas, testemunhas de defesa e de acusação, entre outros. Wallace morreu em 2010, em São Paulo, por complicações na saúde.
Território é poder
No último episódio do documentário sobre o Caso Wallace, a direção se preocupou em mostrar o cenário pós-morte do ex-deputado (2010-2018), na Segurança Pública da capital e interior do Amazonas. Nesse período, ocorre a migração em massa de grupos criminosos de outros estados, principalmente, da Região Sudeste. A chegada deles fez as “tradicionais” organizações de tráfico de drogas de Manaus se transformarem nas atuais facções que matam rivais com requintes de crueldade.
Chamou atenção a falta de uma política pública de segurança do Estado para barrar o avanço desses grupos que comandam o tráfico internacional de drogas e firmam bases em áreas periféricas e em ocupações ilegais de terras na capital e interior do Amazonas, as conhecidas “invasões.” Atualmente, está em andamento uma investigação na qual revela que as facções são responsáveis por grande parte das ocupações ilegais de terras (estaduais, federais, particulares e de preservação ambiental) para a criação de territórios protegidos por milícias e que durante as eleições viram verdadeiros “currais eleitorais.” O último episódio do Caso Wallace no qual indica as relações estreitas entre os líderes de facções e os membros do Poder Público para aumentar a ocupação de território no Amazonas fez a equipe da TV britânica avaliar a produção da segunda fase do documentário.