Mais da metade da população do Amazonas (54,4%) enfrenta a fome e 30,2% das famílias nessa situação possuem crianças menores de 10 anos. Ao todo, 1,11 milhão de moradores estão no quadro de maior risco, o da insegurança alimentar grave. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (2º Vigisan), promovido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), divulgado nesta quarta-feira (14).
A vulnerabilidade social no Estado se agrava com a baixa renda provocada pelo desemprego dos chefes de família, que atinge 14%, bem superior aos 8,3% do Norte, já acima da média do País. O levantamento mostra que o desemprego é determinante central da condição de vulnerabilidade social e da insegurança alimentar dessas famílias.
O estudo mostra que 63,9% das famílias do Amazonas estão mais propensas a enfrentar a falta de alimentos na mesa por apresentarem renda inferior a meio salário mínimo per capita, o que as insere no quadro de insegurança alimentar moderada e grave.
No Norte e Nordeste, justamente onde estão as maiores proporções de pobreza e extrema pobreza, concentram também a maior frequência de endividamento das famílias, como um dos efeitos da pandemia, mostra o levantamento. Neste quadro, o Amazonas registra que mais da metade das famílias (52,6%) estão endividadas.
Já entre as famílias cujos responsáveis mantinham trabalho autônomo estavam mais sujeitos à situação de insegurança alimentar moderada e grave, portanto com frequente convívio com a fome. Neste recorte, a pesquisa mostra que 41,5% dos chefes de famílias no Amazonas se encontravam nessa situação, sem renda fixa.
O novo recorte do estudo da Rede Penssan, com apoio da ActionAid, evidencia ainda impactos de fatores cuja discussão é atual e urgente: o endividamento das famílias brasileiras e o alastramento da fome de forma mais grave nos lares com crianças de até 10 anos. Além de lamentar tal realidade, a ActionAid reforça a importância do olhar atento e atuação engajada de toda a sociedade perante os dados coletados pela Rede Penssan nos 26 Estados e no Distrito Federal.
“O estudo mostra que fatores como endividamento e insegurança alimentar grave estão diretamente relacionados, e são mais graves nos lares com crianças em praticamente todos os estados. As desigualdades que permeiam nossa sociedade se refletem nas diferentes regiões, e são também o principal fator gerador de insegurança alimentar. Só é possível superar a fome com o devido enfrentamento da raiz do problema, e isso envolve geração de conhecimento com rigor técnico aliado a retomada, implementação e desenvolvimento de políticas públicas efetivas e estruturadas em âmbitos nacional, estaduais e municipais”, diz o analista de Políticas da ActionAid, Francisco Menezes.
A pesquisa Vigisan teve execução em campo do Instituto Vox Populi. A Ação da Cidadania, a ActionAid, a Ford Foundation, a Fundação Friedrich Ebert Brasil, o Ibirapitanga, a Oxfam Brasil e o Sesc São Paulo são organizações apoiadoras e parceiras da iniciativa.
FONTE: D24am