A seca na Amazônia em 2024 tem se mostrado uma das mais severas dos últimos anos. A região está enfrentando uma estiagem prolongada e intensa, com impactos significativos em diversos setores, como agricultura, pesca, transporte e meio ambiente. A situação já afeta profundamente a economia da região, com consequência no mercado de seguros.
O setor já se prepara para enfrentar reflexos significativos tanto no aumento da arrecadação quanto na quantidade de sinistros. Modalidades como Seguro Rural, Patrimonial e de Transporte estão entre as mais vulneráveis a esse tipo de evento climático. Com a previsão de permanência do fenômeno, o setor se atenta para novos desafios, não apenas no estado do Amazonas, mas em toda região norte do país.
No caso do seguro rural, voltado para a proteção de lavouras e florestas, os riscos decorrentes de secas prolongadas são evidentes. Em 2023, agricultores e empresas da região já sentiram os impactos econômicos das perdas causadas pela estiagem. A tendência para 2024 é de um aumento na procura por esse tipo de cobertura, à medida que a preocupação com fenômenos climáticos extremos cresce.
“Vimos um aumento significativo nos sinistros em 2023 devido à seca, e a expectativa para este ano é que o cenário se repita. As lavouras e áreas de cultivo são diretamente afetadas pela falta de chuva, o que faz com que o seguro rural seja cada vez mais demandado”, aponta Emerita Lyra, diretora executiva do Sindicato do Seguradoras Norte e Nordeste (Sindseg N/NE).
Na avaliação do presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Antonio Trindade, a seca na Amazônia é um dos impactos mais sensíveis da crise ambiental que afeta o país e afeta diversos segmentos, incluindo seguros rurais, residenciais, de condomínios, empresariais, de grandes riscos e até transporte de carga.
“A produção rural, vital para a economia brasileira, está enfrentando perdas alarmantes. A escassez de água compromete a produtividade e a sustentabilidade das suas atividades. As seguradoras oferecem coberturas para garantir aos produtores acesso a produtos que ofereçam proteção e suporte em tempos de adversidade. Infelizmente, o Brasil conta com uma contratação de seguro rural bastante baixa, o que limita os resultados que poderiam ser oferecidos”, afirma.
Números do setor no Amazonas
Apesar dos desafios, o setor de seguros no Amazonas vem registrando um crescimento expressivo nos últimos anos. Segundo dados de arrecadação, o estado teve um aumento de 174,5% no Seguro Rural e 40,8% no Seguro de Transporte no 1º semestre de 2024, números acima da média nacional. O aumento reflete a crescente preocupação com os impactos das mudanças climáticas e a busca por proteção financeira diante de eventos extremos.
Em 2023, o pagamento de indenizações no primeiro semestre para o seguro rural foi de R$ 112,4 mil, enquanto no mesmo período de 2024 foi de R$ 19,3 mil. Uma queda de 82,8%. O seguro de transportes teve indenizações pagas no ano passado que ultrapassou R$ 9,7 milhões. Em 2024 esse número ultrapassou R$ 15,6 milhões. Um aumento de 60,8%. Em relação ao segmento patrimonial, no 1º semestre, foram pagos em indenizações mais de R$ 11,5 milhões. No ano passado houve um decréscimo de R$ 2,5 milhões, em virtude de recuperação de veículos ou imóveis salvados pelas empresas.
A tecnologia tem sido uma importante aliada para a expansão do setor de seguros na região norte. A localidade se sabe da complexidade e difícil acesso, onde a adoção de ferramentas como drones e imagens de satélite para avaliação remota de propriedades e riscos tem facilitado a operação das seguradoras, tornando o processo de contratação e sinistros mais eficiente. “Avaliações remotas permitem que as seguradoras atuem em áreas distantes com maior agilidade e precisão, o que é crucial em um estado como o Amazonas, onde o transporte e o acesso são complicados”, ressalta Emerita Lyra.
Adicionalmente, as empresas que operam em setores dependentes da biodiversidade e dos recursos naturais da Amazônia também estão sob pressão. “As interrupções na cadeia de suprimentos e os riscos financeiros associados à instabilidade ambiental tornam essencial a reavaliação dos modelos de risco utilizados pelas seguradoras”, avalia o presidente da FenSeg.
Demais efeitos da seca
Outro efeito colateral da seca é o aumento das queimadas. Com o clima mais seco, as ocorrências de incêndios tendem a crescer, elevando o número de sinistros nos Seguros Patrimoniais. No entanto, é preciso cautela: algumas apólices podem excluir ou limitar a cobertura para incêndios de grandes proporções ou causados por queimadas descontroladas, o que exige atenção dos segurados no momento da contratação.
“As condições climáticas extremas sempre foram um ponto de atenção para os Seguros Patrimoniais. A seca aumenta o risco de incêndios, e é crucial que as seguradoras estejam preparadas para lidar com uma alta na sinistralidade, como já vimos em anos anteriores”, explica a diretora do Sindseg.
O transporte fluvial, uma das principais formas de escoamento de mercadorias na Amazônia, também é diretamente afetado pelo baixo nível dos rios. A interrupção desse transporte pode acarretar grandes prejuízos para as empresas, que precisarão acionar seus seguros para cobrir danos ou perdas. No caso dos Seguros de Transporte, além das mercadorias, a responsabilidade civil em casos de interrupção do serviço também gera preocupação.
O presidente da Fenseg também sinaliza sobre os desafios para os seguros residenciais e de condomínios. “A deterioração da infraestrutura, o aumento dos riscos de incêndios e outros desastres naturais deverão exigir, no futuro, uma revisão das apólices, reforçando que os segurados estejam protegidos contra esses riscos emergentes”, acrescenta.
Ainda segundo Antonio Trindade, “é imperativo que se possa desenvolver estratégias inovadoras que não apenas diminuam os riscos, mas também incentivem a adoção de práticas sustentáveis que garantam a proteção do meio ambiente, do nosso setor, e principalmente, de um dos nossos maiores patrimônios: a Amazônia”.
Fonte: D24am