A queda da credibilidade da imprensa profissional é um fato observado em nível global, acompanhado pelo discurso de autoridades políticas e pelo funcionamento da engrenagem da pós-verdade, fenômeno em que fatos perdem a relevância perante a ideologias e crenças pessoais. Tudo isso amplificado pelas mídias sociais digitais.
No entanto, o trabalho continuou sendo feito, apurado, checado e intensificado com o uso de tecnologias e investigação de dados, em um aprimoramento diário e constante que vemos em nível mundial, em veículos independentes e tradicionais. É uma realidade sem volta que chegará a todos nós. Mais cedo ou mais tarde.
Porque se trata de fatos, da realidade. Ela não muda. Sobre ela incidem diversos fatores e atores, de diversos e variados lados – as opiniões – que, somados, resultam no acontecimento. O jornalismo é o espaço da sociedade para isso porque ele é, antes de tudo, um espaço de contraponto.
Embora saibamos que nenhuma democracia jamais será perfeita, sabemos também que sem liberdade de expressão, sem o acesso à informação, não haverá cidadãos com conhecimento da realidade imediata, que possam formar seu juízo e agir em sociedade.
E este é o compromisso fundamental do jornalismo. O exemplo mais atual e irrefutável desta premissa é o trabalho que a imprensa vem desenvolvendo na cobertura da pandemia do Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. A imprensa vem desempenhando o papel fundamental de informar e, neste caso, salvar vidas. Com base em fatos. Não em achismos.
Eis a importância do jornalismo profissional. Um levantamento global realizado pela Edelman Trust Baromete revela que 64% da população de dez países, o que inclui o Brasil, enxerga o trabalho da imprensa como a fonte mais confiável no contexto de pandemia da Covid-19. Já os dados do Datafolha divulgados no último dia 23 de março afirmam que os programas jornalísticos das emissoras de televisão (61%) e os jornais impressos (56%) são as fontes com maior índice de confiança sobre as informações acerca da doença.
Em ambas pesquisas, apurou-se também o crescimento na preocupação da população com as informações propagadas via redes sociais digitais sobre o coronavírus, sem embasamento e, muitas vezes, contrariando recomendações da comunidade médica e científica.
Para lidar com a compreensão geral da sociedade, entender esses mecanismos é que defendemos a importância da formação técnica e humanística para o exercício da profissão. A era da pós-verdade em que vivemos é a prova cabal disso.
O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora estes sejam instrumentos de suma importância para o exercício da profissão nos dias de hoje. O valor dele está justamente na credibilidade, no compromisso com a verdade. É por isto que o jornalismo configura-se como um bem público essencial à democracia.
Ser jornalista é enfrentar esta realidade, enfrentar autoridades, presidentes, lideranças, coerção de poderes constituídos em busca do interesse público que alimenta a democracia. E isto nem todos estão dispostos a fazê-lo. É por isto que, ser jornalista é, acima de tudo, orgulhar-se da profissão. É por isso que precisamos estar unidos, enquanto categoria, para seguirmos em frente.
Auxiliadora TupinambáPresidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJPAM)