O Conselho Constitucional da França aprovou, no último dia 14, medidas-chave da impopular reforma da Previdência, como o aumento progressivo da aposentadoria, de 62 para 64 anos, até 2030. A medida reforça a ideia de que os imigrantes sobrecarregam o sistema previdenciário francês. Uma consequência desse ponto de vista é o aumento da xenofobia no país europeu, onde vivem hoje 7 milhões de estrangeiros.
Segundo o professor de relações internacionais James Onnig, da Facamp (Faculdades de Campinas), a discriminação contra imigrantes já vem ocorrendo há várias décadas.
O fenômeno começou a ganhar mais ênfase a partir dos anos 1980, quando uma forte crise econômica assolou a Europa e boa parte do mundo. À época — e até hoje —, as pessoas que vinham de outros países eram vistas como concorrentes, mesmo que buscassem empregos em setores diferentes daqueles procurados pelos europeus.
A xenofobia se faz presente em toda a Europa. Mas na França, especificamente, a situação é ainda pior. O país é o que mais gasta com proteção social no continente, o que alimenta um discurso xenófobo e nacionalista.
De acordo com o Eurostat, a França gasta 33% do PIB com proteção social — incluindo pensões, aposentadorias e licenças médicas. O valor corresponde a cinco pontos a mais que a média da União Europeia.
“Os altos gastos públicos, principalmente no setor de previdência, fizeram com que a direita e a extrema direita vivessem reclamando da presença de imigrantes e do custo que isso representava para o governo. Com isso, criou-se uma postura de hostilidade muito grande em relação a essas pessoas”, afirma Onnig.
Um relatório da Eurostat divulgado em outubro de 2022 mostra que a França é o segundo país onde foram registrados mais casos de discriminação contra imigrantes no ambiente de trabalho, perdendo apenas para a Alemanha. Em terceiro lugar, aparece a Holanda.
Em 2021, mais de 1,1 milhão de imigrantes de fora da União Europeia disseram que foram discriminados enquanto trabalhavam. O número é mais que o dobro do total de casos reportados por cidadãos europeus: aproximadamente 450 mil.
Políticas de imigração na França
O professor de relações internacionais explica que, desde 2019, o governo de Emmanuel Macron vem “fechando o cerco” contra imigrantes que querem trabalhar na França, ou que teriam direito a trabalhar no país. Naquele ano, o país impôs cotas a trabalhadores estrangeiros.
Isso significa que, desde então, há um número previamente estabelecido de estrangeiros que podem trabalhar em determinados setores. A medida foi vista como uma tentativa do presidente de mostrar que está atento aos receios dos franceses no que diz respeito à imigração, um dos assuntos mais importantes para o eleitorado. Agora, com a aprovação da reforma da Previdência, a tendência é que essas políticas sejam ampliadas.
Naquele ano, pesquisas mostraram que a flexibilidade das políticas de imigração da França estavam aumentando o apoio à líder nacionalista Marine Le Pen.
Uma pesquisa realizada pelo iFop e divulgada em 21 de abril mostra que, um ano após a disputa do segundo turno entre Macron e Lepen, o atual presidente conta com o apoio de 42% dos franceses, enquanto a sua concorrente aparece com 47%.
A avaliação negativa do presidente francês é puxada, principalmente, pela impopularidade da reforma da Previdência, mas também pela invocação do artigo 49.3 da Constituição. A medida permitiu ao presidente aprovar a proposta sem passar pelo crivo da Assembleia Nacional (a Câmara dos Deputados francesa), que representa a vontade do povo, o que foi interpretado por muitos como uma provocação.
Fonte: D24am.